terça-feira, 24 de maio de 2011

Verde que te quero abaixo


Ele vivia em um país que dispunha da maior reserva de água doce do planeta, protegida em grande parte pelas suas exuberantes florestas, com incrível biodiversidade. No entanto, naquele país estranho, governantes jurássicos não conseguiam ver que a única saída óbvia não apenas para seu povo, mas para toda a humanidade, era a conciliação da preservação do meio ambiente com o desenvolvimento. Mas para aqueles homens, que aliás eram remunerados com recursos públicos e que tinham como dever único e exclusivo representar o interesse daquele povo, o meio ambiente era apenas um entrave ao desenvolvimento. Visão tosca que ignorava a importância das florestas para a regulação do clima e dos recursos hídricos, tão importantes para as práticas agrícolas que aqueles estranhos homens defendiam a qualquer preço, como se essas práticas fossem incompatíveis com a preservação das florestas, e não totalmente dependente delas, como de fato são ...

Para boa parte dos políticos daquele patropi, os ambientalistas eram entreguistas ou inocentes úteis.

Naquele país, os defensores mais radicais do meio ambiente eram assassinados impunemente...

Bizarro país.

sábado, 14 de maio de 2011

La Clope


Suas primeiras lembranças foram as de um campo. A vista, apesar de se repetir monotonamente a cada dia, era bela. Durante anos seria o tempo - tanto o clima quanto o decorrer das horas – quem traria as sutis e únicas variações na paisagem. Veria noites de lua nova e de absoluta escuridão em que o céu era pontilhado por diamantes, e também pores do sol esplendorosos, mas foi o nascer da lua cheia vermelha que o marcaria profundamente. Ante a esse espetáculo, sempre perdia o fôlego, problema que, mesmo sem saber, viria a causar nos outros em um futuro próximo.


A paisagem se repetiria até que um dia ele ouviria um barulho estranho, que destoava do silêncio até então perene daquele local, e que foi aumentando até culminar no desaparecimento total da luz. Não mais estava estático: o movimento e o trepidar eram sensações nítidas, a despeito de nunca tê-las experimentado antes. Em certo momento, essas sensações parariam por alguns minutos, antes de se transformarem em uma rápida e intensa queda, seguida de uma nova sensação de movimento, esta mais suave e mais longa. Após nova parada, a luz surgiria novamente, mas com ela viria o caos total: quedas freqüentes e abruptas e um barulho ensurdecedor durante algumas horas. Depois, logo antes da luz sumir novamente, viria uma estranha sensação de compressão, que nunca mais o deixaria até o fatal momento.

Sentiria novamente, e por repetidas vezes, as sensações de movimento suave e de queda abrupta, sempre na escuridão. Por fim, voltaria a sentir a sensação seminal de estar parado em um mesmo lugar, e as lembranças dos primórdios da sua existência lhe seriam agradáveis por um lado, mas fariam com que a ausência de luz lhe fosse insuportavelmente triste.

Um dia, depois de longo tempo parado, voltaria a sentir a sensação de movimento, porém diferente de tudo o que sentira até então. Logo viria a luz, descortinando uma paisagem estranha e inédita: um ambiente enfumaçado, cercado de espelhos e garrafas, onde vozes e música se misturavam num coquetel inaudível.

Subitamente, uma sensação agradável de calor o preencheu de um êxtase nunca antes sentido. Ouviu um suspiro, e suspirou também. Em seguida, flutuou por alguns instantes até tudo se acabar.

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"La Clope" ou "um outro ponto de vista para Inês"

"olhando ao nada, bateu a cinza do cigarro no chão e suspirou.

que merda…”