segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Com Bogart e Bergman no Marrocos

Junto-me a Bogart e a Bergman no Marrocos. A despedida também é difícil para mim. Na saída do cinema, as ruas de Copacabana gritam, insistindo em me chamar de volta à Terra. Tento ignorar o apelo. Resisto e permaneço no aeroporto de Casablanca. Aos poucos, porém, a realidade vai se impondo. Lixo, policiais, putas e malandros - tudo isso em apenas dois quarteirões . . .

Uma criança de uns três anos passa correndo. Seu sorriso lindo me faz rir também. Comento como é bonita. Mas logo me dou conta da sua pobreza. Está com a mãe, esperando o lixo do supermercado. Um tanto o quanto cínico, penso: "pelo menos é o lixo bom". Aterrizo de vez.

No entanto, alguns momentos mais tarde, no vão central da Ponte Rio-Niterói, a lua recém saída do horizonte, grande e amarelada, me faz decolar de novo. Apóio meus braços no volante e fico babando. Entre nós, os postes desfilam monotonamente. Sinto-me vivo, pulsando com o Universo.

Do rádio com o volume no máximo, Bob Marley dá o toque final ao tableau. "No sun will shine in my day today /the high yellow moon / won't come out to play...". Concrete Jungle. A música vem por frequência modulada no exato momento em que eu percebia a lua, criando uma estranha sensação de sincronicidade inversa.

Subitamente, porém, reprimo a emoção. Péssimo reflexo. Lamento. Mas logo me consolo com a perspectiva do próximo filme, lua, música ou letra virem a transformar a brasa em chama novamente.

Niterói, meados de 1999

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