quinta-feira, 9 de setembro de 2010

v.i. iv

ou "le talon ii" (ou ainda "a benção")

Estava novamente no saguão do aeroporto de Viracopos em Campinas, esperando o embarque para o Rio. Definitivamente aquele local o inspirava. Mais pela espera ociosa do que pelo ambiente em si. Sua técnica para dormir sentado não funcionara desta vez. Lembrou-se então da bela jovem de salto muito alto e muito fino que vira algumas semanas antes naquele mesmo lugar. Se deu conta então que seu sentimento em relação aos sapatos daquele tipo eram contraditórios. Por um lado, os achava bonitos e apreciava bastante o charme por eles conferido às suas portadoras; por outro, os via como uma barreira física, já que eles tornavam pontos estrategicamente vulneráveis, tais como nuca, orelhas e boca, distantes da sua. Às vezes, mais que distantes, fora de alcance mesmo. Além disso, via naqueles sapatos uma arma. Isto desde o dia em que imaginou uma linda mulher com um salto absurdamente fino esticando a perna em sua direção e empurrando o calcanhar para fora, como uma benção (bem naquele lugar). Por que cargas d’água os capoeiristas chamavam esse chute de benção, ele não sabia. Depois de imaginar a cena, percebeu toda ironia contida no nome daquele golpe.

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