segunda-feira, 6 de abril de 2009

Achados e Perdidos - Parte I: Perdidos

Ato I

Madrugada de primeiro de janeiro de 2004. O taxi para na Rue de la Glacière. Nos despedimos com mais um longo beijo. Esta primeira noite duraria cinco anos. Laure desce do carro e desaparece na portaria. Despeço-me com a certeza de que a veria outra vez, o que mitiga a frustração de não estar, naquele momento, no mesmo elevador em que ela. Sigo para minha casa, o famoso apartamento de Montrouge.

Montrouge, tarde de primeiro de janeiro de 2004. Boca seca, enjoo e dor de cabeça. E uma sensação de vazio pela mochila com CDs, agenda e várias outras coisas que eu esquecera algumas horas antes no taxi que me deixara em casa.

Ille-de-France, algum dia de janeiro de 2004. Alguém me fala sobre o serviço de Objets Trouvés de Paris, ao qual me dirijo, e onde recupero a mochila com exatamente tudo que dentro havia.

Ato II

Paris, primavera 2007. Estação Charles de Gaulle-Étoile. Minha primeira visão ao chegar ao nível da rua é o Arco do Triunfo. O tempo está quente, tiro o paletó de lã, não sem antes verificar que minha carteira estava no bolso interno do paletó. Sigo pela Av. de la Grande Armée, vejo a numeração progredir de forma muito lenta. Para chegar ao meu destino, irei levar outros 10 minutos. Se tivesse descido na estação Porte Maillot eu chegaria mais rápido. Mesmo assim, resolvo continuar a pé.

Tateio o paletó para verificar novamente a presença da carteira, que há 10 minutos atrás estava no meu bolso. Tateio todos os bolsos. Inútil, ela já não estava mais comigo, para meu desespero. Como o trecho da Av. de la Grande Armée que eu percorrera estava vazio e escuro, decido refazer o caminho no sentido inverso, com a certeza de que encontraria a carteira pelo chão.

Estou prestes a chegar no local exato em que eu havia verificado a carteira pela última vez, e nada dela. As chances de a encontrar pelo chão tornam-se praticamente nulas. No exato momento em que pensava nisto, meu celular toca.

Número desconhecido. Tenho a certeza, não sei como, de que é algo relacionado à carteira. Dito e feito. Meu interlocutor explica ter acabado de a encontrar. Estamos a apenas alguns passos de distância. Vou ao seu encontro. Ele explica ter vasculhado a carteira em busca de um número de contato, que ele achara em um cartão de visitas.

Novamente, recupero todos meus documentos, inclusive meu titre de séjour, sem que nada estivesse faltando, mesmo os euros. Não sei como agradecer, convido a pessoa para jantar com meu pai, que está me esperando em um restaurante, mas a pessoa já tinha um compromisso. Digo que ligarei um dia desses então para refazer o convite, o que, como bom carioca, nunca cheguei a fazer.

Ato III

Inverno 2007-2008. Após 3 horas de TGV, vindos de Paris, chegamos em Grenoble, Laure e meu amigo Rodrigo, vindo diretamente de Recife. Iríamos passar uns dias nos Alpes, numa estação de esqui.

Um casal de amigos da Laure nos espera na estação de trem. Ao botar as malas no bagageiro do carro, percebo que, no afã de tirar as pranchas de snow board do trem, esquecera neste minha mochila com lap-top, carteira com dinheiro, cartão de banco, cartão de crédito, cartão de seguro saúde, e mais ainda, passaporte, titre de séjour, máquina fotográfica e óculos escuros.

Sinto uma ensação horrível, como se eu tivesse caído em um abismo. Corro, desesperado, para a plataforma, mas o trem já havia partido. Desembarcáramos há 15 minutos. Olho em volta e não vejo ninguém. A pequena estação já estava fechando, pois aquele fora o último trem.

Encontro não sei como, no final da longa plataforma, o escritório do responsável pela estação. Falo sobre a mochila, com a voz trêmula. O responsável me diz que não há nada a fazer, pois antes do trem ir para o depósito, um funcionário verifica se nada fora esquecido, e naquela noite nada havia sido encontrado. Insisto para que ele tente localizar a mochila no depósito. Não apenas porque tinha uma intuição de que a mochila ficara no trem, mas sobretudo porque esta opção era minha única esperança e eu não tinha nada a perder. Minha intuição se confirma quando meu interlocutor liga para o depósito e, por intermédio de um colega, localiza a mochila no local por mim descrito. Eu, no entanto, só poderia recuperar a mochila alguns dias depois. Mas estava tudo bem, tudo maravilhoso.

Volto, alguns dias depois, para Grenoble com o intuito de recuperar a mochila, o que faço sem problemas e sem que nada, absolutamente nada, estivesse faltando.

Um comentário:

  1. você ta abusando da sorte, meu irmao!!
    :)
    é isso ai, temum anjinho da guarda forte te cuidando!
    :)
    abraçao
    Mario

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