Madrugada em Ipanema. Ele entra em seu quarto. Luz apagada. Janela aberta. Ao ver uma luz forte e azulada no chão, ele pensa consigo: “É ela!” Acode à janela verificar. De fato era. Cheia. A pino.
O seguinte lhe vem à cabeça e é passado imediatamente para o papel:
Uma réstia de luz azulada
vem de uma fresta
da janela do meu quarto
que resta aberta
Uma fresta da lua
no resto da noite
Uma fresta da madrugada no papel.
Ele recorre ao dicionário. Procura pela palavra fresta, para se certificar do sentido empregado. Satisfaz-se. E encontra também o seguinte:
3. Fenda, greta, frincha, fisga. “contemplei-a do terraço, através da fresta do batente, e meu propósito de paz se acentuou” (Antônio Olavo Pereira, Marcoré, p. 173).
Até então, ele não sabia que o livro do seu avô havia sido citado no Aurélio. Milhares e milhares de verbetes, e ele cai justamente sobre um que citava seu avô, que sempre o aconselhava de ler uma página de dicionário por dia. Ele, no entanto, indolente, raramente o abria.
Por este motivo, e também por ter escrito aquelas linhas de sopetão, o que lhe é raro, ele suspeitara, na época do ocorrido, de que seu avô as haveria soprado em seu pensamento. Hoje, esta suspeita foi diluída pelos anos passados no país das luzes.
Ola amigo,
ResponderExcluirNao sabia de seu lado escritor.
Gostei de seu texto.
Abraço,
Eliana
Muito bom, meu amigo! E sobretudo uma bela evocação de nosso inesquecível Antonio Olavo.
ResponderExcluirMuito bom, meu amigo! E sobretudo uma bela evocação de nosso inesquecível Antonio Olavo.
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