quarta-feira, 7 de julho de 2010

Lua da Janela


Madrugada em Ipanema. Ele entra em seu quarto. Luz apagada. Janela aberta. Ao ver uma luz forte e azulada no chão, ele pensa consigo: “É ela!” Acode à janela verificar. De fato era. Cheia. A pino.

O seguinte lhe vem à cabeça e é passado imediatamente para o papel:


Uma réstia de luz azulada

vem de uma fresta

da janela do meu quarto

que resta aberta


Uma fresta da lua

no resto da noite


Uma fresta da madrugada no papel.


Ele recorre ao dicionário. Procura pela palavra fresta, para se certificar do sentido empregado. Satisfaz-se. E encontra também o seguinte:

3. Fenda, greta, frincha, fisga. “contemplei-a do terraço, através da fresta do batente, e meu propósito de paz se acentuou” (Antônio Olavo Pereira, Marcoré, p. 173).

Até então, ele não sabia que o livro do seu avô havia sido citado no Aurélio. Milhares e milhares de verbetes, e ele cai justamente sobre um que citava seu avô, que sempre o aconselhava de ler uma página de dicionário por dia. Ele, no entanto, indolente, raramente o abria.

Por este motivo, e também por ter escrito aquelas linhas de sopetão, o que lhe é raro, ele suspeitara, na época do ocorrido, de que seu avô as haveria soprado em seu pensamento. Hoje, esta suspeita foi diluída pelos anos passados no país das luzes.

3 comentários:

  1. Ola amigo,
    Nao sabia de seu lado escritor.
    Gostei de seu texto.
    Abraço,
    Eliana

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  2. Muito bom, meu amigo! E sobretudo uma bela evocação de nosso inesquecível Antonio Olavo.

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  3. Muito bom, meu amigo! E sobretudo uma bela evocação de nosso inesquecível Antonio Olavo.

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