segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Neve em Paris II: is Climate Changing?

Cinco da matina e o despertador interrompe meu sonho de forma um tanto o quanto arrogante. Tenho pouco tempo para me arrumar, pois em 10 minutos um taxi estará me esperando na porta de casa. Na pressa, não abro a persiana, e só percebo a neve ao sair do elevador.

Terceira nevasca em Paris durante os dois últimos meses, faltando ainda dois outros para terminar o inverno. A primeira neve caíra ainda no outono, o que não acontecia há décadas. A segunda fora seguida de uma onda de frio, quando a temperatura na região parisiense chegara a 12 graus negativos, também raríssimo, mantendo a cidade branca durante uma semana inteira.

Hoje, a terceira neve preenche de branco minha varanda à medida que a tela do computador é preenchida por caracteres negros, trazendo, além da inspiração, atrasos em Orly e em Charles de Gaulle, e dificuldades de circulação em dezenas de cidades no norte da França.

No taxi me viera à lembrança os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, laureado com o Prêmio Nobel da paz, juntamente com Al Gore. Prováveis alterações no sistema climático da Terra devido à intensificação do efeito estufa. Furacões, secas, enchentes. Fenômenos naturais extremos cada vez mais intensos e frequentes. Y otras cositas más. Vai dar merda. Opinião compartilhada de forma cada vez mais consensual por vários cientistas, de várias áreas do conhecimento e do planeta. Que merda. Tomara que estejam errados. Toda unanimidade é burra. Agarro-me com toda força na sabedoria de Nelson Rodrigues como uma última esperança. No entanto, as neves em Paris me gritam a evidência das mudanças climáticas provocadas pelo Homem.

O dramaturgo cede lugar a Euclides da Cunha. Mas deixo de lado dicotomias e cisões cidade-campo e sertão-litoral. Abandono as interpretações do “fenômeno sócio-histórico-geográfico-antropológico do sertão-periférico”. Evito a estética de Glauber. Pessimista, penso na profecia de Antônio Conselheiro sem metáforas. O sertão vai virar mar. Um mar de areia? E o mar, invadirá o sertão?

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