quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Conselho de Classe


Sábado à noite. Deixo o Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, onde vira uma excelente peça: Devassa, adaptação de A Caixa de Pandora, do alemão Frank Wedekind. Despeço-me da Marina, cujas performances admiro há muitos anos. Ligo para Túlio. Programa fechado em menos de 30 segundos: Jobi. 10 minutos depois, no alto da Timóteo da Costa, aguardo no carro, com certa impaciência, a chegada do meu amigo.

Para início de conversa, ele me recomenda ler sua última crônica na Fluir. Protesto dizendo que não sabia que ele estava escrevendo para a revista. Já faz um ano, meu camarada, responde o jornalista-surfista (ou o inverso). Justifico-me dizendo que se ele não houvesse me contado, talvez eu ficasse outro ano sem saber, já que há tempos não comprava a revista.



Descemos a ladeira. Inevitável a volta em torno do quarteirão para achar vaga sem um flanelinha para perturbar. Encontramos uma vaga no final da Dias Ferreira. Vamos aproveitar para comprar a revista no caminho, sugeriu Túlio ao nos aproximarmos da farmácia que outrora fora a Piauí, em frente à qual fica a banca de jornais pioneira na cidade a ficar aberta 24h. Melhor na volta, respondo. Prefiro não ter que ficar segurando a revista em pé, disse, ranheta, prevendo a demora em conseguir uma mesa.

Em um dado momento, a conversa descambou para uma certa opinião feminina sobre barba masculina. Túlio, porém, mudou de assunto com uma pérola da sua filha Ana: “Papai, por que você diz que vai fazer a barba? O certo é desfazer a barba.” Claro. Lógico. A Ana tem toda a razão. Nada melhor do que a lógica de uma criança inteligente de 6 anos para por fim a conversas insistentes. A noite durou mais do que o previsto e o plano de comprarmos a revista ficou comprometido.

Três dias depois, à espera da barca que faz a ligação entre a praia de São Francisco em Niterói e o Centro do Rio, aproveito os mais de 30 minutos ociosos para comprar a revista e ler o artigo. Procuro no índice. Surfe Deluxe. O blog virara crônica na Fluir! Uma leve onda de orgulho pelo meu amigo me percorre.

Logo no início do texto, uma bela recordação de momentos espetaculares e inesquecíveis que vivemos há 20 anos ao surfarmos sozinhos, ainda adolescentes, num dia de aula sem aulas (o tão sonhado conselho de classe), o meio da barra em condições perfeitas. A exatidão e, sobretudo, a sensibilidade da lembrança trouxeram-me uma forte nostalgia que, somada à homenagem e ao visual da praia de São Francisco sob uma luz ímpar, deixaram-me com os olhos cheios d’água -por sinal, salgada como as muitas ondas que surfaremos juntos. Valeu goodfella, aquele abraço!

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